Memória

Grandes casos de violência no Brasil:


  • Wellington Menezes - o massacre de Realengo (7 de abril de 2011)
Este talvez seja o exemplo mais escancarado da intervenção da mídia. Todos ouvimos histórias de como os jornalistas imploravam por lágrimas e detalhes sangrentos do acontecimento às vítimas, crianças inocentes. Eram elas a nos relatar os acontecimentos, de forma a trazer parte da fantasia das histórias infantis. Para as salivas dos repórteres de plantão. Dias e dias se seguiram, sem nada mais a acontecer a não ser os detalhes dos sobreviventes, a dor das famílias dos assassinados, e a discussão constante sobre as consequências do bullying sobre uma mente em formação. O Massacre de Realengo refere-se ao assassinato em massa ocorrido por volta das 8h30min da manhã na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro. Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola armado com dois revólveres e começou a disparar contra os alunos presentes, matando doze deles, com idade entre 12 e 14 anos. Wellington foi interceptado por policiais, "heróis da nação", e cometeu suicídio em seguida. Neste caso, a vida do rapaz assassino não teve importância. O que se ressaltou foi: devemos impedir a prática de bullying nas escolas para que não cresçam outros "Welingtons" por ai. Mesmo assim, o rapaz de vítimas tornou-se agressor, deixando o seu papel de sofrimento relegado à segundo plano. Ele foi "a besta" para alguns jornais, "o monstro" para outros, enquanto para todos "precisávamos impedir a proliferação de possíveis monstros". O bullying, talvez, nunca tenha sido tão discutido no país.
       

  • Ocupação do Complexo do Alemão (28 de novembro de 2010)
A guerra estava declarada. O tráfico é algo tão comum nos noticiários, mas este trouxe elementos contraditórios: a segurança armada, a paz através da guerra. Como seria possível? Um acontecimento local ganhou proporções e dimensão internacional, contribuindo para a imagem que se tem do Rio de Janeiro ao passo em que se incutia a crença e a confiança na segurança que o Estado passaria a produzir. A esperança, a fé nos representantes do governo no local, a ideia de pacificação foram a constante da formação ideológica do heroísmo do Estado. Oculta-se, no entanto, as opiniões contrárias a este evento, opiniões de gente comum, não necessariamente dos diretamente envolvidos: os bandidos. A ocupação do Morro do Alemão começou às 7h50 deste domingo 28. Televisão e rádio com transmissão ao vivo nos dão conta que a maioria da população carioca apoia a ação e que a esmagadora maioria dos moradores do Alemão não tem nada a ver com os traficantes. O comandante da PM aparece na TV e o repórter informa que ele orienta seus homens – são mais de 2 mil entre militares, civis e das Forças Armadas – a “revistar casa a casa” para encontrar os marginais. Os tiroteios começaram esparsos a partir das 11h10 horas da manhã, não houve até então uma grande resistência por parte dos bandidos, para surpresa de todos. Direto do local da ação, a internet é a arma de moradores acuados  e amedrontados para expressar suas opiniões, enquanto que os repórteres direto do local dos tiroteios mostram a fuga dos moradores, mas, indubitavelmente, a sua crença na efetiva da ação policial. Vários prêmios ao redor do mundo foram dedicados à prática midiática na cobertura desta ação. Era o que de fato de pretendia, a valorização do sensacional, a disseminação do medo no Rio de Janeiro. E a "fantasia" de pacificação continua, apesar de todos os "fatos isolados" de violência que acontecem ao redor da cidade. Até quando?


  • Isabella Nardoni  (18 de abril de 2002 - 29 de março de 2008)  
O caso gerou grande repercussão no Brasil e Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, respectivamente pai e madrasta da criança, foram condenados por homicídio doloso triplamente qualificado e vão cumprir pena de 31 anos, 1 mês e 10 dias, no caso dele, com agravante pelo fato de Isabella ser sua descendente, e 26 anos e 8 meses de reclusão no caso de Anna Jatobá. A menina fora agredida pela madrasta e jogada pela janela pelo pai do sexto andar do prédio em que Anna e Alexandre moravam. Os dois tentaram mentir, dizer que um ladrão havia invadido a casa e jogado a menina pela janela, mas todas as evidências mostraram o que, de fato, aconteceu. As investigações foram acompanhadas exaustivamente pelos meios de comunicação, com direito a detalhes da perícia, entrevistas com os assassinos e com a mãe da criança, Ana Carolina Oliveira. O calculismo do pai, a "encenação" de dor pela madrasta, o sofrimento doloroso da mãe da criança, a coincidência doentia dos nomes da madrasta e da mãe de Isabella e, principalmente, a privação à vida de uma criança inocente foram extremos agravantes para a exposição exacerbada do caso. Muitos pais, ao redor do Brasil, assassinam seus filhos, deixam em lixeiras ou em sacos plásticos boiando no rio, tão ou igualmente cruéis, rendendo apenas algumas notas nos jornais. Este caso gerou comoção social por todos os envolvidos e por suas participações. Eles se deixaram envolver, bem como o fato de que uma família com renda e condições financeiras ter algo tão assustador sem quaisquer motivadores: eles têm tudo, eles têm educação e perspectivas, por que fizeram isso? Ou seja, matar um filho quando não se tem condição para criá-lo é hediondo, mas quando se tem condição é pavoroso, monstruoso. Capítulos e capítulos foram dedicados a esta história, inclusive com a aparição pública de outras vítimas da morte de seus filhos, como Glória Perez. Talvez por tudo isso, a justiça tenha sido feita com mais rigor.




  • Sequestro ao ônibus 174 (12 de junho de 2000)
Um filme na vida real. O sequestro do ônibus 174 foi um episódio marcante da crônica policial do Rio de Janeiro. Às quatorze horas e vinte minutos, o ônibus da linha 174 (atual 158) ficou detido no bairro do Jardim Botânico por quase 5 horas, sob a mira do revólver de Sandro Barbosa do Nascimento. Algum tempo depois, o ônibus foi interceptado por dois policiais. Dez passageiros foram tomados como reféns pelo sequestrador. A partir daí, todas as emissoras de televisão, fotógrafos de jornais e revistas haviam se instalado no local, e passamos a assistir ao vivo o decorrer dos acontecimentos. As negociações, o clima de angústia, todo o pânico dos passageiros. Sandro, enfim, desceu do ônibus e mais um fator foi destacado pelos jornais: o despreparo dos policias da Tropa de Elite dos dias de hoje. Por vários momentos, Sandro põe a cabeça para o lado de fora do ônibus, podendo ter sido alvo de um tiro certeiro, caso os policiais tivessem preparo para tal. Outro aspecto: quando Sandro resolve descer do ônibus, está com uma arma apontada para a cabeça de uma mulher e, numa ação súbita, um dos policiais parte para cima do bandido, na tentativa de atirar nele. O tiro saiu pela culatra, literalmente. Quem acabou morta foi a professora, refém de Sandro. Não importa, conseguiram capturá-lo, afinal, algumas vidas teriam que ser sacrificadas mesmo. Evitaram um desstre maior. Mais uma vida foi sacrificada, sim, a do próprio sequestrador. Sandro morreu sufocado pelos policiais a caminho da cadeia. O mesmo Sandro que fora vítima na Candelária, massacrado social, não teve perdão, nem pelos policiais e nem pela sociedade, que a todo momento clamava pela sua morte. Enfim a sua condição teve redenção: dois filmes foram gravados com a história de sua vida: o documentário Ônibus 174, de José Padilha, um reflexo sobre todo o contexto que engloba o acontecimento (fato completamente esquecido pelos jornais, que não têm a função de refletir, apenas a de informar... Será?); e a ficção Última Parada 174, de _______, uma releitura da vida do bandido. Afinal, de que lado nós estamos, de que lado somos colocados?


  • Chacina da Candelária (23 de julho de 1993) 
A Chacina da Candelária foi a maneira como ficou registrado na mídia o evento que ocorreu na madrugada do dia 23 de julho de 1993, próximo às dependências da Igreja homônima do centro do Rio. Nesta chacina, seis crianças e dois maiores de idade moradores de rua foram assassinados por policiais militares. Alguns carros pararam em frente à Igreja da Candelária e, em seguida, desceram policiais que abriram fogo contra mais de setenta crianças e adolescentes que dormiam no local. Um dos sobreviventes da chacina, Sandro Barbosa do Nascimento, mais tarde voltou aos noticiários quando se tornou o responsável pelo sequestro do ônibus 174. Não há perspectiva, é o que se depreende daí. A narrativa midiática acabou por caracterizar as vítimas, que representavam personagens poluentes da cidade, enquanto moradores de rua, desta mesma forma, já que perpetuaram a noção do senso comum, o estigma. E é desta forma que a memória do caso continua a manter os estereótipos.





  • Thomas Huskey (“The Zoo Man”) (assassinatos cometidos em 1991 e 1992) 

Múltipla personalidade? Acusado de matar quatro prostitutas durante os anos de 1991 e 1992, no estado norte-americano do Tennessee, o serial killer Thomas “Zoo Man” Huskey cumpre pena de 44 anos. Em fevereiro de 1999, um julgamento foi incapaz de definir se Huskey era insano ou não. A defesa alega que os crimes seriam cometidos pelo seu alter ego, “Kyle”. “The Zoo Man”, apelido do assassino – segundo testemunhas, pagava prostitutas e as levava para um estábulo próximo ao zoológico onde trabalhava –, descrevia meticulosamente seus encontros com as vítimas, desde o momento em que as encontrava até a hora da execução.


  • Daniella Perez (11 de agosto de 1970 — 28 de dezembro de 1992)
Filha da escritora de novelas Glória Perez, Daniella era atriz e estava em ascensão em uma das novelas da mãe (De corpo e alma) no ano em que foi assassinada. Neste caso, fatalmente, houve uma fusão entre a realidade e a ficção, um prato cheio para a exploração por parte da mídia. Daniella foi morta pelo ator Guilherme de Pádua, que fazia seu par romântico na novela, e por sua esposa, Paula Tomaz, o que contribuiu para que as pessoas acompanhassem o caso mais intimamente. Tanto que, no mesmo período, houve a renúncia do presidente Collor, algo que foi quase esquecido pelos jornais (daí, também, deriva a relação da Rede Globo com o apoio à sua campanha para a presidência. O que a emissora pretendia naquele momento era esquecer ou fazer esquecer que teve alguma participação na eleição do único presidente a renunciar por acusações de corrupção). Todos os envolvidos viraram personagens da novela da vida real, o marido de Daniella, o também ator Raul Gazolla, a mãe escritora, imersa sobre os conflitos que poderia ter criado na ficção, e todos os atores que contracenavam com Daniella passaram a ser vistos na vida real como se estivessem encenando. Aproveitando a notoriedade e a visibilidade do caso, bem como o seu próprio envolvimento, Glória colheu 1,3 milhão de assinaturas, e conseguiu aprovar um projeto de lei para incluir o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos, que recebem tratamento legal mais severo e impossibilitam o pagamento de fiança e o cumprimento da pena em regime aberto ou semi-aberto. Como o assassinato de Daniella foi anterior à instauração da nova lei, Paula e Guilherme foram beneficiados e cumpriram parte da pena em liberdade. O casal ficou preso por sete anos.

  • Suzane Von Richtoffen (assassinato em 31 de outubro de 2002)
Suzane era uma jovem de classe média-alta, filha de um imigrante alemão e de uma psiquiatra. Aparentemente, possuia um ambiente familiar estável, tendo sido criada com todas as regalias que desejava. No momento em que começa a namorar com um jovem e encontra impedimento por parte dos pais, planeja a morte de ambos, que fora executada pelo namorado (Daniel Cravinhos) e seu irmão (Cristian Cravinhos). O grande fator que colaborou para o engrandecimento do caso por parte da mídia foi o fato de Suzane pertencer a uma família estruturada e rica. Por que esta jovem mataria os pais, portanto? Diversas teses preencheram o horario nobre, colaborando para o aumento do caso nos meios de comunicação. A principal delas fora usada pelos advogados de defesa da jovem: um distúrbio psiquiátrico. Daí derivaram investigações não oficiais realizadas pela mídia, através do uso do discurso científico por parte de psiquiatras e psicólogos, para estudaras mínimas ações da jovem. A frieza e o calculismo foram evidências quase que comprobatórias de que Suzane era, de fato, uma psicopata, que, no momento em que os pais lhe negaram algo, planeja uma ação para que nunca mais encontre impedimentos na vida: herdaria a metade da fortuna deles e viveria de acordo com a sua vontade. Suzane, também, foi acusada de ter planejado o assassinato porque passou a usar drogas depois de começar a namorar Daniel, membro de uma família de classe baixa. Estes dois estereótipos foram bastante relevante para a construção do "enredo" midiático. O fato do assassinato ter ocorrido no dia das bruxas foi outro símbolo bastante relevante para que Suzane fosse incluída na categoria de "monstro", "bruxa".


  • John Wayne Gacy Jr. (O Palhaço Assassino) (entre 1972 e 1978)

 O espetáculo não podia parar – era o que pensava. Mas as brincadeiras de John Wayner Jr., com as quais ninguém se divertia, teve fim em 1978. O Palhaço Assassino, como ficou conhecido, foi condenado a 21 prisões perpétuas e 12 penas de morte por matar, ao menos, 29 garotos. Nascido em 1942, em Illinois, Chicago, Gacy teve uma infância traumática, marcada pelos insultos do pai, alcoólatra. Aos 11 anos, foi atingido por um boomerang na cabeça, cuja força do impacto lhe causou traumas no cérebro. Cometeu seu primeiro homicídio em 1972.O método de abordagem de Gacy era seguido à risca em todos os casos: encarnava o personagem de um palhaço, pegava seu carro e dirigia pelas ruas da cidade em busca de jovens – só há registro de vítimas do sexo masculino – à procura de carona ou que se encontrassem sozinhos. Ao entrarem no carro, atacava-os com clorofórmio – anestésico tóxico – e, em seguida, levava-os para sua residência. Lá, agredia e abusava sexualmente das vítimas, até irem a óbito. Numa espécie de ritual sádico, enterrava os corpos no jardim da casa.Foi preso em 1978. Durante os 14 anos de cárcere, antes de morrer com uma injeção letal, Gacy pintou diversos quadros, os quais foram vendidos por mais de 300 mil dólares. Suas últimas palavras ao guarda, antes de injeção, foram: “Beije minha bunda”

  • Francisco Costa Rocha (Chico Picadinho) (entre 1966 e 1976)

 Em 1966, Francisco Costa Rocha estrangulou a bailarina austríaca Margareth Suida, em São Paulo, e, em seguida, esquartejou a vítima. Chico Picadinho, como ficou conhecido na história, disse que a semelhança da mulher com sua mãe teria motivado o crime. Foi condenado a 20 anos e meio de prisão.No ano de 1976, recebeu liberdade condicional, mas cometeu novamente outro assassinato, seguido de esquartejamento. A vítima, Ângela de Souza da Silva, teve seu corpo retalhado e as partes colocadas numa mala. Chico foi levado para a Casa de Custódia de Taubaté, São Paulo, na qual se encontra preso até hoje. Apesar de a Constituição não permitir penas superiores a 30 anos, o caso é considerado excepcional. Segundo a Justiça, Chico não tem condições de viver em sociedade. Entretanto, nunca recebeu tratamento psiquiátrico.Fã de Dostoievski – a quem chamou de “Deus” numa entrevista – e Kafka, completou 35 anos de cárcere. Seu advogado de defesa ainda aguarda o resultado de um recurso, de 2010, para libertar Chico.

  • Charles Manson (1969)



 Um dos assassinos em série mais conhecidos – e temidos – da história, Charles Manson, na contramão do clima pacífico da época de Woodstock, liderou um grupo, denominado “Família Manson”, responsável por uma série de assassinatos nos dias 9 e 10 de agosto de 1969, na Califórnia. O caso ganhou repercussão midiática ainda maior pelo fato de que, entre as vítimas, estava a mulher do cineasta Roman Polanski, Sharon Tate.Manson, apesar de não estar presente em nenhum dos assassinatos,  teria sido mentor e mandante dos crimes. Vincent Buglioso, promotor responsável pelo caso, afirmou que Manson acreditava que a série de crimes desencadearia uma “guerra racial apocalíptica”. Buglioso conseguiu convencer o júri popular de que Manson teria influenciado quatro jovens a cometer os assassinatos. Após a sentença, os cinco foram condenados à morte, mas, devido a mudanças nas leis penais do estado em 1972, a pena foi alterada para prisão perpétua. Atualmente, encontra-se encarcerado na Penitenciária Estadual de Corcoran, na Califórnia.

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=BE8GdGkH1p8