domingo, 5 de dezembro de 2010

ENTREVISTA com Vera Malaguti

O Beco Escuro entrevistou a Professora Dra. Vera Malaguti Batista do Instituto Carioca de Criminologia do Rio de Janeiro e autora do livro "O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história".

O Beco:

O noticiário fala sobre pacificação com ausência de conflito e tráfico pelas UPPs nas comunidades. E de repente, explode a violência denominada guerra. Que participação é essa?

Vera Malaguti:

Para mim essa pacificação é mais um dos elementos do modelo bélico de segurança pública que o Brasil está recebendo como uma sucata das derrotas Americanas no Iraque e no Afeganistão. As ocupação militar das áreas de pobreza, que são as UPPs, são aquelas velhas pacificações no sentido que a pax romana tinha, que é de conquista de território, um termo militar. E na historia do Brasil temos depois do séc. XIX, da dec. de 30, as revoltas populares, Revolta dos Malês, Cabanagem, Farrapos, nas quais ocorreram pacificações. Por exemplo, na Cabanagem reresentou o massacre de quase 50% do estado do Grão Pará. Então para mim, a pacificação não era um contraponto, era mais um elemento dessa escalada bélica.

O Beco:

Que relação você estabeleceria entre esse processo de pacificação e o medo subjetivo estudado por você?

Vera Malaguti:

É trabalhar as áreas de pobreza como blocos do mal e do perigo e a partir disso, produzir o controle usando a expressão da Gizlene Neder: controle absolutista militarizado sobre a pobreza. De tal modo que os negócios transnacionais esportivos fluam. Então os medos são promovidos. Começou com muros ecológicos, metáforas do cercamentos das favelas. No caminho do aeroporto já não vê mais favela. Então, faz parte toda essa política de limpeza de um Estado que está ocupado. E agora para minha surpresa, a entrada do Governo Federal, o que eu chamo não sei se facismo ou se é farsismo. Na verdade são grandes peças publicitárias: Eu amo o Rio, o Rio é Lindo, o dia D, a Tropa de Elite 3. O facismo e o farsismo estão simbioticamente ligados.

O Beco:

O que você tem a dizer sobre as representações midiáticas dessa vez?

Vera Malaguti:

Eu achei um escândalo e vai ser um daqueles grandes mitos da historia da Globo, mais um. A globo ela tem a cobertura das Diretas, o Pro-consulte, fraude ligada ao Brizola, a edição do debate do ex presidente Lula. O dia D, da Tropa de Elite 3 faz esse episódio ser mais um mito histórico deles. Estão comparados a cobertura que a FOX deu na guerra do Iraque. Mas eles estão entrando firmes no que o velho professor norueguês chamado Nils Christie chama de industria do controle do crime.

O Beco:

Que relação pode haver entre esses episódios de ocupação e a Copa do Mundo de 2014?

Vera Malaguti:

Relaçao total. O Alemão acabou sendo uma coisa simbólica, ne? Porque no Pan, houve a chacina do Pan. O Alemão tem essa peça publicitara da cidadela do crime e ai de repente cadê aquilo tudo q aparecia? Exercito, marinha? Eu acho que estão preparando a cidade para um modelo horroroso e perverso de contensão da conflitividade carioca, pois o rio sempre foi uma cidade aberta para q fluam os negócios não só por uma ocupação militar, mas uma privatização. Pq você sabe que negócios olímpicos, se quisermos chamar algo de crime organizado, é esse capital transnacional que esta vindo. E fique aquela ideia de Rio de Janeiro, a cidade boba, (com Parada Natal Disney).

Para a Copa poderia ter um projeto radicalmente oposto, mas o capital transnacional esportivo prefere vender também a industria do controle do crime q pode ter ainda uma relação com aquela ideia de sucata do que sobrou do oriente médio, como disse antes.

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